Quando avaliamos uma fotografia isolada das demais fotografias que compõem determinado ensaio ou história, abstraímos grande parte do contexto em que àquela fotografia estava inserida. Passaram por esta coluna inúmeras fotos, a maioria delas belíssimas, mas que funcionam melhor junto das demais peças da história ou ensaio. Isto é, não são fortes o suficiente sozinhas, tão pouco contam uma história.
Ao avaliarmos uma fotografia isolada, é preciso que ela se sustente, se baste, que nos faça sentir, que traga algo especial e/ou inusitado. Mais que simplesmente técnica, mais que pura estética, mais que um momento, mais uma história. É preciso que naquela fotografia o momento, a história, a técnica, a estética (ou a falta proposital dela) andem lado a lado.
A leitura de portfólio feita sob a belíssima foto de Marcondes e seu inquestionável apuro técnico e estético, serve de exemplo. Se fossemos avaliar apenas questão técnicas e estéticas a fotografia é perfeita, de um domínio que pouquíssimos fotógrafos possuem – aliás, gostaria eu de tê-los – ratificando que tal fotografia foi premiada por isso.
Entretanto, por mais que a foto conte uma história para o casal, e tenha um belo significado para o fotógrafo e para eles, quando submetermos a uma leitura de portfólio e isolarmos do restante do ensaio, sinto falta de conhecer este casal, de expressões sinceras e autênticas, de sensações, de entendê-los e/ou a história do casal, sem precisar que palavras sejam mencionadas.
Assim como a fotografia de Willian Rafael também é um ótimo exemplo disto. Temos em sua composição simetria e diversas formas geométricas que dão mais força ainda à imagem, com retângulos, e quadrados dentro dos retângulos, temos quadrados e retângulos dentro dos quadrados. A cruz que nos dá senso de localização, e nos remete à igreja e a cerimônia religiosa do casamento. Conseguimos perceber de forma clara vários momentos e histórias acontecendo simultaneamente.
Da esquerda para a direita, a mãe que tenta tirar uma foto do bebê que coloca o dedo no nariz do pai; O homem que ajeita a gravata da criança; o noivo que bate em seu relógio como quem diz “está chegando a hora”; Os convidados e padrinhos posicionados esperando o cortejo começar; Os dois homens que levam a mão até o nariz como sinal de tédio pela espera e demora; E o homem que arruma o brinco do seu par.
O mais legal disso tudo é que todos estes momentos convergem para que a fotografia nos conte uma história: a espera para começar o cortejo e a cerimônia de casamento.
Entretanto, o que sobrou na fotografia de Marcondes, faltou na fotografia de Willian Rafael. O capricho com os detalhes, a pós produção fina e o excelente bom gosto para tal. O Preto e Branco extremamente sub exposto faz com que a fotografia perca muitos detalhes nas sombras, como, por exemplo, nos trajes dos homens e de algumas mulheres. Os ajustes locais muito marcados, como os pincéis nos rostos das pessoas e, principalmente, nos rostos das pessoas atrás do arbusto, entregam uma falta de cuidado e capricho. Assim como a mulher cortada no canto esquerdo do quadro e os pés do menino cortados na parte inferior do quadro.
Um passo para trás e tudo estaria milimetricamente no seu lugar. Realmente uma pena a mulher que se sobrepõe ao homem, quase no meio do quadro. Porém, para capturar todos estes momentos acontecendo de forma simultânea e ainda, a mulher saísse da frente do homem, é necessário contar com um mínimo de sorte. Pode ser que se o clique fosse feito uma fração de segundo antes ou depois, isso pudesse acontecer. Pode ser que não.
Parabéns pelo trabalho e obrigado por compartilhar conosco.
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