Fotos: Renato dPaula – #isababe365
“Quando se pensa que fotografar pela décima vez uma família que mora na praia vai ser algo igual ao que se fez anteriormente, engana-se. No documental, sem controle, somos surpreendidos a todo instante”.
Cada matéria que faço sobre um livro em que estive mega envolvida sinto dificuldade de deixar de lado minhas sensações e percepções pessoais e profissionais no texto que deveria ser estritamente jornalístico. Porém, passei a perceber que talvez esse meu envolvimento pudesse agregar algo para aqueles que leem uma matéria feita com tanto carinho sobre um livro em que muito se foi trabalhado. Talvez você não esteja interessado nas minhas opiniões, mas posso te deixar aqui a minha experiência.
A primeira vez que li a frase que coloquei acima me arrepiei. Ela foi escrita pelo Renato dPaula, e não pude deixar de perceber que a fotografia documental tem uma necessidade urgente de ser como a vida: bela, com várias facetas e surpreendente. Não se pode prever aquilo que vai acontecer em seguida, mas isso é o que torna tanto a vida, quanto a fotografia documental, interessantes. Que graça teria se assistíssemos filmes ou lêssemos livros em que já sabemos tudo que vai acontecer?
Também sinto isso com os fotógrafos com quem trabalho. Aqueles que estão com a gente na missão de escrever um livro trabalham diretamente comigo, e cada experiência é diferente, contagiante, extasiante e especial. Renato dPaula foi o primeiro autor com quem trabalhei que falou sobre fotografia de família, e eu tinha certa expectativa de me identificar, mas não imaginei que seria tanto.
A importância desse livro é tamanha que eu, uma pessoa muito mais apegada a histórias escritas do que visuais, me peguei desejando fazer registros imagéticos como os do Renato. E não, não tenho ambição de ser fotógrafa. Mas durante a leitura e trabalho aprofundado no conteúdo dele, senti a urgência de ter registros incríveis como os que ele faz, em que os personagens fossem a minha família.
Mais do que técnica fotográfica, passei a enxergar que, nas palavras do Renato, os momentos realmente especiais são aqueles que estão nos intervalos. Entre a comemoração de aniversário e o natal, os momentos realmente especiais são aqueles vividos nos dias mais cinzas, mas ao mesmo tempo tão coloridos na vida de uma família. Aprendi com ele que memórias diferentes podem ser resgatadas com um único retrato, pois a partir de uma foto é possível lembrar todo o contexto que compõe a história de uma época de sua vida.
Me peguei pensando se eu precisava de uma câmera mirrorless pra fazer registros incríveis como os do Renato. Depois, como muito ele insistiu, percebi que o equipamento não faz tanta diferença se você não estiver disposto a fazer duas coisas: esperar e buscar outra perspectiva. Sim, contraditório. Mas é a questão do timing. É preciso, como ele diz, ter paciência e persistência para esperar o momento acontecer na sua frente. Mas também é preciso saber a hora de mudar de posição e encontrar outra perspectiva ainda mais inovadora.
Eu não moro na mesma cidade dos meus pais e das minhas irmãs há muitos anos e me peguei desejando que estivéssemos novamente todos juntos para ter registros como aqueles. Pensei e pensei e pensei mais um pouco sobre como eu podia deixar a fotografia documental entrar na minha vida. Sim, sou uma pessoa das palavras. Porém, me lembrei de uma ideia colocada por Renato dPaula, ele diz que se uma imagem pode falar mais que mil palavras, imagine o que uma imagem pode fazer junto de mil palavras. A resposta? Contar uma história.
“Mas Duda, afinal de contas, por que você está nos contando tudo isso?” Um motivo: para mostrar que o impacto desse livro acontece em qualquer ser humano que tenha relações familiares. Porque a vontade de contar histórias está intrínseca a qualquer pessoa que viva histórias. E se esse livro — que muito tem de técnica, composição e equipamentos para fotógrafos — impactou tanto alguém que o estava lendo com olhos críticos de edição e revisão, imagine você o que pode causar em alguém que o lê com o propósito de mudar seu olhar e sua forma de trabalho.
Agradeço imensamente a oportunidade de ter trabalhado com esse livro tão significativo, e poder mostrar para vocês um pouquinho das lombrigas que ele causa na gente. Se você quer contar histórias mais completas, se você quer transformar a sua fotografia ou ainda se você não quer nada com fotografia, mas tem uma família por quem é apaixonado: esse livro é para você.
“A Essência da Família: a beleza e o caos através da fotografia documental” está disponível na Loja Photos.
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